Sem nada para fazer, decidi, no fim-de-semana finado, deslocar-me à mina de Xabregas na companhia de um grupo excursionista de anões hiperactivos, que insistiam em fintar o meu nervo óptico com as suas frenéticas movimentações.
Ora, a meteorologia era favorável à apanha de estupendos exemplares de Kriptonite. Um radioso sol chuvoso espreitava por entre nuvens de luz cinzenta. Uma das propriedades cristalográficas da kriptonite é exalar um cheiro característico a cadáveres de superhomem, quando afrontada com tempo semelhante. Durante a viagem, os anões-cabrãozinho não pararam de cantar melodias esganiçadas, cujo teor obviamente sexual era acentuado pelas excêntricas trajectórias das suas movimentações, ora pelo tecto do autocarro, ora sentados em pirâmide sobre a careca do motorista. Cheguei mesmo a pensar deixar os ácidos.
Chegados a Xabregas, a turba sobreexcitada deteve-se à visão fantasmagórica das escombreiras de alturas prodigiosas, com os seus negros cumes envoltos em neblinas semelhantes a miasmas pantanosos. Não pude evitar achar graça àqueles pequenos seres, cujo comportamento é comparável ao de alguns pequenos roedores, comprimidos contra as janelas do autocarro. Os seus rostos pálidos da sugestão fantasiosa, as suas bocas escancaradas num expressão de pasmo. Os pés de alguns já se encontravam mergulhados em pequenas poças de urina, largadas em virtude do entusiasmo. Tinha de acabar com aquilo. "- Puta que pariu!"- anunciei com firmeza - "Somos mineralogistas! Apanhemos kriptonite." Ao meu anúncio, os merdosos anões entreolharam-se e, num rompante, a macacada recomeçou. Tive de os expulsar do veículo turístico com o auxílio de uma esfregona e um taco de golfe.
Sendo eu um tipo de mau carácter e assaz perguiçoso, decidi revelar a minha real intenção ao angariar tamanho saco de nanicos. A toques de cacete, tratei de os distribuir pelos vários pontos das escombreiras, onde apanhariam minerais que me entregariam na tasca da esquina. Completa a tarefa da distribuição do rebanho, entrei no estabelecimento enegrecido pela actividade mineira (Snack-bar O Varela) e pedi uma tosta e uma Sagres, ófachavôr. Do ponto onde me posicionei ao balcão infecto, podia vislumbrar quase todos os anões de cu para o ar, catando avidamente a base das ecombreiras, conforme combinado. De tempos a tempos, um dos pequenos atrofiados trazia-me o produto da sua colheita, que consistia na inevitável kriptonite, siliconite (um cono-silicato de clivagem múltipla), marialvite (cristal dotado de mimetismo, que surge montado noutros) e alambite (o mineral-alambique, de onde se pode beber delicioso medronho).
Detenho-me um pouco para explicar no que consiste Xabregas. Situada à beira do rio Pimpão, num outrora verde terraço fluvial onde pastavam vacas e palhaços, a cidade foi fundada no século II A. C. (Antes de Castro), pelo imperador romeno Guedes. O seu nome significa "chá estragado", derivando da expressão latina "Xá Bregum". O destino da bucólica vila ribeirinha ficaria intimamente ligado com a descoberta de kriptonite debaixo da saia de uma lavadeira, por parte de um grupo de bifes alcoolizados, fez agora uma semana. Durante este periodo importante da história xabreguina, foi construído um gigantesco complexo industrial, tendo em vista a exploração impiedosa do jazigo de kriptonite, que arrastou o lugarejo para um abismo ecológico, de que todos os habitantes se orgulham. "- Já me estava a aborrecer..."- testemunha Bernardo Bettencourt, antigo latifundiário, hoje Lambedor Sénior de Canos, responsável pela filtragem de Bostas e Resíduos Nojentos, rejeitados pelo complexo. No terraço fluvial, dantes verde, hoje preto esverdeado, amontoam-se filas de casas cinzentas dos mineiros e pessoal auxiliar, fundeadas por montanhas de escória, encimadas pela bruma e neves eternas. Ácidas. O jazigo é a céu aberto e a lavaria é uma fábrica obsoleta, de costelas metálicas salientes, cuja maquinaria é alimentada por geradores a vapor, existentes num edifício em tijolo encarnado, a central eléctrica. Os donos da mina nunca a visitaram. Diz-se que vivem em Capri, afogados em putas e vinho francês.
Voltando à minha tosta, a Sagres acabava-se. Pequenos dilemas, diminutos legos a que chamamos momentos. Unidades básicas do fio de meada que compõe cada existência. Peço mais outra? Ficava tarde e o frio começava a apertar nos joelhos. Já chegava de recolhas mineralógicas (400 kg de riquezas). Levando os dedos à boca, assobiei. Ao ouvirem tal som, os anões transferiram o regabofe para a entrada do Varela, onde receberam com gratidão valentes cacetadas dos mineiros que passavam. Fiz o sinal combinado com o motorista (três castanholadas e um peido) e não demorou muito a surgir imponente, rasgando a esquina mijada, o mastocarro. Com a ajuda de um grupo de mineiros cantarolantes, introduzimos à tacada no mamute excursionista aquela massa anã composta por órbitas luminosas, faixas de luz desbotadas.
Enquanto atravessávamos a ponte Vasco Santana, achei que já tinha tido a minha conta e comecei a atirar aqueles mini-filhos da puta borda fora. Um por um, precipitavam-se ponte abaixo, mergulhando nas águas gélidas do Pimpão. Durante a queda, vi alguns esgalharem uma última punheta. Soltando um suspiro, sentei-me ao lado do motorista. Estava cansado e impunha-se uma conversa de circunstância.
Ora, a meteorologia era favorável à apanha de estupendos exemplares de Kriptonite. Um radioso sol chuvoso espreitava por entre nuvens de luz cinzenta. Uma das propriedades cristalográficas da kriptonite é exalar um cheiro característico a cadáveres de superhomem, quando afrontada com tempo semelhante. Durante a viagem, os anões-cabrãozinho não pararam de cantar melodias esganiçadas, cujo teor obviamente sexual era acentuado pelas excêntricas trajectórias das suas movimentações, ora pelo tecto do autocarro, ora sentados em pirâmide sobre a careca do motorista. Cheguei mesmo a pensar deixar os ácidos.
Chegados a Xabregas, a turba sobreexcitada deteve-se à visão fantasmagórica das escombreiras de alturas prodigiosas, com os seus negros cumes envoltos em neblinas semelhantes a miasmas pantanosos. Não pude evitar achar graça àqueles pequenos seres, cujo comportamento é comparável ao de alguns pequenos roedores, comprimidos contra as janelas do autocarro. Os seus rostos pálidos da sugestão fantasiosa, as suas bocas escancaradas num expressão de pasmo. Os pés de alguns já se encontravam mergulhados em pequenas poças de urina, largadas em virtude do entusiasmo. Tinha de acabar com aquilo. "- Puta que pariu!"- anunciei com firmeza - "Somos mineralogistas! Apanhemos kriptonite." Ao meu anúncio, os merdosos anões entreolharam-se e, num rompante, a macacada recomeçou. Tive de os expulsar do veículo turístico com o auxílio de uma esfregona e um taco de golfe.
Sendo eu um tipo de mau carácter e assaz perguiçoso, decidi revelar a minha real intenção ao angariar tamanho saco de nanicos. A toques de cacete, tratei de os distribuir pelos vários pontos das escombreiras, onde apanhariam minerais que me entregariam na tasca da esquina. Completa a tarefa da distribuição do rebanho, entrei no estabelecimento enegrecido pela actividade mineira (Snack-bar O Varela) e pedi uma tosta e uma Sagres, ófachavôr. Do ponto onde me posicionei ao balcão infecto, podia vislumbrar quase todos os anões de cu para o ar, catando avidamente a base das ecombreiras, conforme combinado. De tempos a tempos, um dos pequenos atrofiados trazia-me o produto da sua colheita, que consistia na inevitável kriptonite, siliconite (um cono-silicato de clivagem múltipla), marialvite (cristal dotado de mimetismo, que surge montado noutros) e alambite (o mineral-alambique, de onde se pode beber delicioso medronho).
Detenho-me um pouco para explicar no que consiste Xabregas. Situada à beira do rio Pimpão, num outrora verde terraço fluvial onde pastavam vacas e palhaços, a cidade foi fundada no século II A. C. (Antes de Castro), pelo imperador romeno Guedes. O seu nome significa "chá estragado", derivando da expressão latina "Xá Bregum". O destino da bucólica vila ribeirinha ficaria intimamente ligado com a descoberta de kriptonite debaixo da saia de uma lavadeira, por parte de um grupo de bifes alcoolizados, fez agora uma semana. Durante este periodo importante da história xabreguina, foi construído um gigantesco complexo industrial, tendo em vista a exploração impiedosa do jazigo de kriptonite, que arrastou o lugarejo para um abismo ecológico, de que todos os habitantes se orgulham. "- Já me estava a aborrecer..."- testemunha Bernardo Bettencourt, antigo latifundiário, hoje Lambedor Sénior de Canos, responsável pela filtragem de Bostas e Resíduos Nojentos, rejeitados pelo complexo. No terraço fluvial, dantes verde, hoje preto esverdeado, amontoam-se filas de casas cinzentas dos mineiros e pessoal auxiliar, fundeadas por montanhas de escória, encimadas pela bruma e neves eternas. Ácidas. O jazigo é a céu aberto e a lavaria é uma fábrica obsoleta, de costelas metálicas salientes, cuja maquinaria é alimentada por geradores a vapor, existentes num edifício em tijolo encarnado, a central eléctrica. Os donos da mina nunca a visitaram. Diz-se que vivem em Capri, afogados em putas e vinho francês.
Voltando à minha tosta, a Sagres acabava-se. Pequenos dilemas, diminutos legos a que chamamos momentos. Unidades básicas do fio de meada que compõe cada existência. Peço mais outra? Ficava tarde e o frio começava a apertar nos joelhos. Já chegava de recolhas mineralógicas (400 kg de riquezas). Levando os dedos à boca, assobiei. Ao ouvirem tal som, os anões transferiram o regabofe para a entrada do Varela, onde receberam com gratidão valentes cacetadas dos mineiros que passavam. Fiz o sinal combinado com o motorista (três castanholadas e um peido) e não demorou muito a surgir imponente, rasgando a esquina mijada, o mastocarro. Com a ajuda de um grupo de mineiros cantarolantes, introduzimos à tacada no mamute excursionista aquela massa anã composta por órbitas luminosas, faixas de luz desbotadas.
Enquanto atravessávamos a ponte Vasco Santana, achei que já tinha tido a minha conta e comecei a atirar aqueles mini-filhos da puta borda fora. Um por um, precipitavam-se ponte abaixo, mergulhando nas águas gélidas do Pimpão. Durante a queda, vi alguns esgalharem uma última punheta. Soltando um suspiro, sentei-me ao lado do motorista. Estava cansado e impunha-se uma conversa de circunstância.