quarta-feira, 5 de março de 2008

20:45

As maos cheirando a alho, a máquina a lavar, a couve a cozer. Duas bananas quase podres definhando à minha frente. Hoje nao foi nada, um dia funcionário, um já-esquecimento. Enervado por chatices burocráticas. Gostava de mandar, desde as Asturias, um abraço para o Rui. Que tenha as suas ilusoes, os seus projectos, viagens de pasmar e, sobretudo, que nao perca Lisboa, cidade no seu bolso. Que saiba que isto tudo pode ser uma merdoca, nem isso!, uma pasta cinzenta langonhosa, sem utilidade nem graça, sem nome que lhe preste. Que nao se esqueça que há quem chame "viver" a nunca ver o Sol, a repetir o já repetido chegando a duvidar da existência de espelhos, ou, vejam só!, cozinhar sem azeite. Uma vez sem exemplo, que de filinhas temos todos as rotinas recheadas, coraçoes ao alto, molhemos o dedo para ver de que lado sopra a vontade - sigamos o Rui.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Metamorfose



Ó homem que passas tranquilo na rua

atrás de qualquer próximo perfume

e chegas a casa sem incidentes

ó homem que tens à espera de ti

virada a esquina da rua e do tempo o teu próprio rosto

nao tenhas pena de quem morre

de árvore para árvore

e é diferente no princípio e no fim da rua.


Ruy Belo, Todos os Poemas (Assírio & Alvim)

Paredes




Oiço o Paredes e vejo tudo com vivida nitidez. O Cais das Colunas. O caos pachorrento das ruelas de Alfama escorrendo colina abaixo. Descer a pé de S. Sebastiao ao Terreiro do Paço.


Uma ou outra vez, o Mondego, a Universidade, borracheira e vielas escuras. Confusao alegre. Coimbra.