quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Nasci numa cidade da província, que deixei ainda muito petiz. Nao sendo propriamente um pardieiro no fim do mundo, ainda hoje é um lugar relativamente pouco acessível, pelo menos na óptica do moderno conceito de "acessibilidade", já que a auto-estrada ainda nao lá chegou (está para breve). Creio que este é um dos exemplos do Portugal rural à antiga, que na minha imaginaçao desperta imagens de intermináveis estradas nacionais que passam pela Venda das Raparigas, conjecturas pueris sobre o tamanho de Lisboa, travessias de serras agrestes ao sabor de excêntricas curvas que desafiavam muito passageiro ao vómito, ou ainda a praia, o mar azul longínquo no seu exotismo estival. E outras coisas mais que me vêm à cabeça, desordenadas, em catadupa. Muitas delas sao também reféns da infância.
Saí da terra muito pequeno, como já disse, com apenas 7 anos, voltando para passar férias. Com o passar do tempo, e apesar das acrobáticas piruetas da vida, o afecto pela minha cidade natal nao sofre qualquer alteraçao. A mesma intensidade se mantém, a mesma cor genuina do carinho infantil. Talvez se possa dizer que o que amo é, na realidade, a memória de uma cidade. É possível. Felizmente, o isolamento a que está votada fez com que se mantivesse, no que ao meu afecto importa, praticamente na mesma, resultando numa feliz coincidência entre memória e realidade. Desde que fui estudar para a faculdade que deixei de lá ir com a regularidade das pausas para férias, mas isso é por causa de filhas-da-putices familiares às quais, ainda por cima, sou alheio. Quero sempre lá ir e gosto sempre de lá estar. As recordaçoes do cheiro das ruas, das tonalidades da luz reflectida pelo granito, da serra enquadrada pela janela do quarto da minha mae, do vermelho da cadeira da ourivesaria do meu tio, dos salgueiros acotovelando-se na margem do rio, dos arcos da ponte romana; fazem parte do pensamento que tenho quando penso em mim.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

domingo, 6 de janeiro de 2008

O último cigarro?

Há algum tempo, deixei de fumar. Depois de uma festa num hotel, nas ilhas Canárias

O último cigarro?

Há algum tempo, deixei de fumar. Depois de uma festa num hotel, numa ilha das Canárias. Receio ter tomado essa decisão de ânimo demasiado leve, apesar das notórias melhorias no paladar, no respirar e no hálito ao acordar. Os momentos mais interessantes da minha vivência foram fumados. Se esta afirmação não é totalmente verdade, posso afirmar que pelo menos foram celebrados com fumo. Os instantes mais saborosos tiveram o seu cigarro. Nem sempre da mesma marca, nem sempre do mesmo género. Comprado, cravado, enrolado ou já pronto no pacote, o cigarro viveu nos meus tempos mortos. Também os queirosianos contemplativos existiram. Situações corriqueiras houve que se tornaram prazenteiras pelo simples facto de proporcionarem tranquila cigarrada. A saber: esperar comboios, caminhar para a faculdade, sentar-me no jardim, ir a casa de certos amigos. Depois de foder, mas isso só quando a amiga também fumava. No entanto, a estrela da minha vida de fumador foram as estações de comboios. Recordo a delícia que era para mim puxar quentes baforadas de pé na plataforma. Ou a placidez de espírito com que enrolei cigarros no meio da azáfama ferroviária. E o mar. Fumar num barco, com maresia e Peniche ao fundo.
Todos os fumadores têm as suas manias. Eu tinha as minhas. Ao contrário do costume, nunca gostei de misturar café e cigarros, assim como não me era imprescindível bafar depois das refeições. Detestava fumar de manhã, coisa que raramente fiz. Tinha a mania do "cigarro-solitário", que se fuma sozinho à janela antes de deitar, do "cigarro-social" que acompanhava a noitada e, já para o fim, o cigarro enrolado.
Deixei orfãos dezenas de isqueiros. Fumei de muitas marcas, nacionais e estrangeiras. O primeiro cancerílho foi um Camel, cravado a um amigo num final de noite que desembocou nas margens do Tâmega. Confesso que gostei. Seguiram-se as experiências tabagistas, que servem o propósito de descobrir o El Dorado do fumador: o cigarro bom e barato. Nunca encontrei resposta definitiva ao problema, pelo que as experiências se prolongaram durante toda a minha vida útil de fumo de forma pouco sistemática. Ficam para a minha história pessoal os secos, torrados e iniciáticos Camel, os curtos, arranhadeiros Ventil, os Lucky Strike habituais, o aromático Amsterdamer e o Golden Virginia (50g) que adoptei já no exílio asturiano.
Agora, acabou-se.
Seguindo o mito do Eterno Retorno, um dia voltarei, agarrado a um cachimbo.
Até lá....

Las portuguesas


Las portuguesas

Son bellezas que no dicen

Nada.


Paz Alba