terça-feira, 23 de janeiro de 2007

A Gola em Alta

Hoje, ao sair de casa, dei com um grupo de miúdos rodando um charro à porta da Associação Asturiana de Fibrose Quística.

Hoje, também, faz um ano que principiou a actividade de Sony Hari no seu blog www.gola-alta.blogspot.com e interrompo as minhas investigações pseudo-científicas para deixar aqui expressos os meus mais roliços parabéns. Foi um ano de textos cuidados, com teores que foram desde o saudosismo intimista, desabafos espirituais, ânsias incontidas, à fotografia catita e alguma culinária da felicidade.

Fui informado que no próximo aniversário Sony Hari patrocinará uma vetusta celebração no Gambrinus. Bem-haja!

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Preferir mulheres

Aviso já que isto não é propaganda em favor do aumento das liberdades para lésbicas. Aviso feito.

Quando era um imberbe petiz, a minha mãe sempre se preocupou em perguntar com quem tinha andado a brincar naquela tarde, uma vez aparecido na cozinha para jantar, ofegante e mal lavado das minhas tropelias vespertinas. Saber-lhes os nomes servia algum critério de avaliação de conduta obscuro, faculdade esotérica apenas ao alcance das mamãs deste mundo. Ciente do resultado pouco pedagógico em aconselhar "boas companhias", apenas insistiu no inquérito, essa pergunta velada de censura ou aprovação, "quem é...?". Isto até hoje, não parecendo desanimar-se com os meus barbudos 25 anos.

A verdade é que quem escolhe sou eu, mamã. E, depois de anos de inconsciente e venturosa experimentação, venho aqui revelar o que mais me convém como companhia ideal. Antes de fazer a revelação de tão titânico empreendimento científico (custou-me uma puberdade e dois vícios), a lei obriga-me a exibir a correspondente ficha técnica:

- A companhia ideal é definida em função da situação mais propícia ao ócio e à preguiça contemplativa. Companhia ideal para se deixar estar numa maré de conversas fúteis e entregue a práticas sensoriais degustativas. Cum catano!, é a companhia ideal para se ir para o café!

- As observações foram feitas na sua esmagadora maioria em território nacional e as restantes em vários países europeus, ao longo de um período de tempo porreiro para se poder tirar ilações estatísticas deste género, ou seja, uma adolescência e sete anos no Tibete dos adultos;

- Não foram torturados animais durante a realização deste estudo.



Gosto da companhia de pessoas. Queria escrever isto. Prefiro as pessoas aos animais que não falam, não escrevem, não pintam, etc. e que cagam tudo por onde passam. E não tomam café.

De entre as pessoas, os homens são uns animais, no que à companhiologia da questão diz respeito. Falam alto, são demasiado básicos e coçam o tomatal sem pinga de pudor. A companhia ideal (estamos a considerar uma situação limite do prazer) para um café nunca poderia ser um homem. E depois, andam à porrada e eu sou um maricas.

É óbvio que a companhia ideal não poderia ser uma mulher. Uma mulher sozinha com um homem à mesa de um café é como Waterloo antes de soar o primeiro canhão. Confesso que é sempre confrangedor e são dois pesos sobre os nossos ombros: o de milhões de anos de astúcia biológica cruel e, pior de todos, a possibilidade de decotes generosos (peso a dobrar).

A companhia ideal é, sem margem para dúvidas, um grupo de mulheres. Não muito grande, senão ninguém se entende neste tasco. O suficiente para fazer uma roda simpática à volta da singela mesinha.
Se somos o único homem, rapazola, gaiato, no meio de mulheres, é imediatamente criada uma cumplicidade entre as convivas que visa reduzir-nos à ingenuidade. Essa conjura feminina traduz-se em frases crípticas (julgam elas!) que terminam em gargalhada geral, sinais, toques, etc. , que devemos receber com expressão desorientada, real ou fingida. No entanto, da mesma forma elegante, sem gases, arranhadelas nas gónadas, concursos de imperiais e vivas ao Benfica, instala-se um ambiente propício a qualquer tema de conversa, sobretudo aos mais fúteis, que tanto me divertem e soltam o riso. Ninguém sabe cultivar melhor o artificial que as mulheres. E o artificial é o que de mais humano pode haver. É exclusivamente nosso, nasceu do nosso acto de existir enquanto peculiaridade orgânica e está vedado à Mãe Natureza. Não é, portanto, abusivo dizer que as mulheres, colectivamente, são as principais portadoras da tão gasta "condição humana". Está-se bem entre elas.
Claro que isto é uma pretensão de aprofundamento disparatado da questão "com quem tomaria eu café pela última vez na vida?", mas para isso é que existem blogues. E cafés.