terça-feira, 27 de junho de 2006

Complexidade ou embuste?

A ideia que temos da complexidade da vida, enquanto dado adquirido, é uma banalidade propalada tanto em ditados populares como em tratados de eminentes pensadores académicos. A visão labiríntica de um sistema político ou de um Estado é um lugar comum sobre o qual ninguém se debruça, como se se tratasse de uma fatalidade, uma emanação. Para onde quer que nos viremos, a complexidade das coisas surge como uma doença crónica à qual nos devemos habituar e que seguirá os nossos passos pela vida adentro. Qual a origem, qual o propósito desta dificuldade tão global, tão cândidamente aceite?

"A surpresa de Karamallah não era fingida; estava verdadeiramente surpreendido com a persistência e a amplidão de um pensamento inepto que julgava incapaz de florescer em terras ensolaradas. Assim, a velha ideia emitida por ilustres pensadores originários das regiões frias, segundo a qual o mundo seria complicado e absurdo, tinha atravessado os oceanos e as fronteiras para vir aninhar-se no cérebro de um abominável escroque das margens do Nilo. Esta vilania consistente em negar a simplicidade edénica do mundo servia os interesses dos poderosos, posto que justificava todas as dificuldades sofridas pelas massas ignorantes. "

in As Cores da Infâmia, Albert Cossery