sexta-feira, 21 de abril de 2006

Delírio Tremendo no Combro

Noutro dia, encontrava-me em improvisadas assobiações, bandas sonoras de pensamentos divagantes, quando me surpreendo a iniciar a descida do Combro. O aumento de velocidade tornou-se demasiado óbvio para ser ignorado, o que me chamou a atenção para os pés. Estes já não se chamavam assim; eram rodas em roda-viva, rolando Combro abaixo. Enquanto o vento me deformava as feições da cara, tive uma epifania fantástica: o único ponto fixo era eu, sendo a cidade que se afastava a velocidade vertiginosa, aproveitando o facto de me apanhar numa descida, tristemente metamorfoseado num peão-velocípede. Já antes me acontecera ter de seguir atrás de cidades traiçoeiras que, a dada altura, decidiram por capricho ou desamor fugir-me na circunstância da distracção. Por exemplo, ainda há coisa de dias deixei Chaves, imagine-se, em Trás-os-Montes! E há coisa que um viajante possa ser, que não um pastor de cidades? Como posso albergar um Mundo em mim, se ele não pára quieto?